Sobre o Índice de Transparência da Moda Brasil – edição comparativa

O Índice de Transparência da Moda Brasil, criado em 2018, é a maior pesquisa do setor sobre transparência.

De 2018 a 2023, ele avaliou e classificou, anualmente, a divulgação de informações sociais e ambientais das principais marcas de moda no Brasil, o que permitiu a criação de uma extensa base de dados.

Pela primeira vez, o ITMB apresenta uma edição comparativa, que oferece um balanço desses dados recolhidos neste período.

Nessa análise, são avaliados como e o que as maiores marcas e varejistas no Brasil divulgaram sobre suas políticas, práticas e impactos sociais e ambientais.

PRINCIPAIS DESCOBERTAS

A transparência das empresas analisadas está avançando, mas em ritmo insuficiente para enfrentar os crescentes efeitos das crises climática e de direitos humanos.

MEIO AMBIENTE

Houve aumento significativo na divulgação de emissões de gases de efeito estufa pelas marcas, passando de 17% em 2019 para 45% em 2023 (nos Escopos 1 e 2) e, referente à cadeia de fornecimento, de 10% em 2019 para 40% em 2023 (Escopo 3). No entanto, ainda falta transparência sobre compromissos mensuráveis e com prazo determinado de descarbonização e desmatamento zero.

 

Foi observado um aumento de transparência sobre a quantidadede itens produzidos anualmente pelas marcas, com um destaque que as marcas analisadas pelo Índice no Brasil são mais transparentes sobre essa questão do que as avaliadas no Índice Global. Entretanto, a transparência sobre a quantidade de resíduos gerados ainda é limitada.

 

Mais marcas estão divulgando sistemas de devolução de peças para reciclagem em suas lojas, mas poucas informam quantos produtos são realmente projetados para a circularidade, sugerindo que esse tema ainda está em fase inicial.

DIREITOS HUMANOS

Entre 2018 e 2023, houve aumento na divulgação sobre a quantidade de trabalhadores migrantes nas instalações de fornecedores, mas houve diminuição na transparência sobre as medidas adotadas para regularizar esses trabalhadores.

Mais da metade das marcas possui políticas contra o trabalho escravo contemporâneo, mas existe pouca transparência sobre dados específicos, como fatores de risco (horas extras excessivas e forçadas, liberdade de movimento restrita, retenção de documentos de pessoais, servidão por dívida, etc.)

As marcas são mais transparentes sobre igualdade de gênero do que sobre igualdade racial em suas operações. Essa transparência é ainda menor nas informações sobre igualdade de gênero e racial entre os fornecedores.

GOVERNANÇA

Empresas de capital aberto tendem a ser mais transparentes em seus indicadores de governança devido a exigências regulatórias.

RASTREABILIDADE

Apesar de ser considerada a mais desafiadora pelas empresas analisadas, a seção Rastreabilidade do ITMB foi a que apresentou maior crescimento de pontuação média geral entre 2018 e 2023.

Em 2018, apenas cinco marcas disponibilizavam listas de fornecedores de fábricas de nível 1 e instalações de processamento e beneficiamento. Quanto ao nível de matéria-prima, apenas 3 empresas compartilharam alguma informação sobre seus fornecedores. Já em 2023, esses números quase quintuplicaram: 23 grandes marcas divulgaram listas de fornecedores diretos (nível 1), 21 divulgaram listas de fornecedores de instalações de processamento e beneficiamento e 15 incluíram uma seleção de seus fornecedores de matérias-primas.

Apesar disso, 57% das 60 maiores marcas e varejistas que operam no país ainda não divulgam nenhuma informação sobre suas listas de fornecedores.

PESQUISA DE PERCEPÇÃO

Este ano, o ITMB também contou com uma pesquisa de percepção das marcas em relação ao próprio Índice. Os resultados mostram que 68% das marcas reconhecem que a pesquisa impulsionou suas práticas de sustentabilidade e transparência, enquanto 72% percebem mudanças internas como resultado da participação no projeto.

O questionário do ITMB é visto pelas empresas como uma ferramenta de avaliação interna e um guia para novas iniciativas, desafiando as empresas a sair da zona de conforto e elevar o nível das discussões, trazendo novos temas à tona.

 

ponto de vista

“A emergência climática deve servir como um alerta para que as indústrias da moda e têxtil reconheçam seu papel tanto na problemática quanto na solução.

A transparência deve ser usada como uma ferramenta colaborativa e não competitiva, permitindo que o setor trilhe um caminho sustentável.”

M.Sc. Danielly de Andrade Mello Freire
Head de Clima do Pacto Global da ONU

“O jogo da transparência em sustentabilidade mudou de fase, e agora revela uma vantagem para as empresas participantes do ITM. Para estas, conhecer e divulgar informações relevantes sobre suas questões socioambientais não é novidade, pois há anos elas vêm desenvolvendo capacidades nesse sentido.

Já para as empresas que nunca deram a devida atenção a essa transparência, o novo cenário, que vem trazendo normas obrigatórias e rigorosas, será não só uma surpresa, mas também um enorme desafio.”

Aron Belinky
Sócio da ABC Associados

“A rastreabilidade é essencial no mundo da moda porque possibilita que consumidores, ONGs e sindicatos tenham acesso a informações sobre a origem dos produtos, as condições de trabalho e o impacto ambiental das empresas.

Sem essa visibilidade, práticas abusivas podem passar despercebidas ou até serem ignoradas, como o trabalho escravo contemporâneo e violações às leis ambientais.

Ao exigir que as empresas publiquem dados completos sobre suas cadeias produtivas, cria-se um ciclo de responsabilidade, no qual a sociedade civil pode pressionar por melhorias, e as marcas são incentivadas a corrigir irregularidades.”

France Júnior
Jornalista e Assistente de Projetos | Pesquisa e Impacto Social – Repórter Brasil

“A transparência deve começar pelo reconhecimento público da existência de uma indústria informal, marcada pelo trabalho precário e a falta de direitos, onde as mulheres são as mais afetadas.

Nessa realidade, o glamour das passarelas não chega e a riqueza gerada ignora os pilares social e ambiental. A verdadeira transparência se dará quando essa indústria informal for mapeada, estudada e integrada aos debates da moda nacional, permitindo a criação de ações políticas eficazes.”

Virgínia Vasconcelos
Professora e pesquisadora
Idealizadora e cofundadora do Coletivo Mulheres do Polo

 

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